Vivian Rio Stella e Patricia Ansarah explicam que o bom líder precisa inovar, aprender, abrir espaços e ampliar pontos de vistas
No dicionário, líder é sinônimo de cabeça, chefe, dirigente, superior, maioral, mestre, patriarca. Nas empresas modernas, os sinônimos precisam urgentemente ser atualizados. Especialistas em gestão apontam que, cada vez mais, a liderança deixa de ser autoritária e unilateral para dar espaço a coordenadores que utilizam a humanização, a conexão e a comunicação como suas principais ferramentas de trabalho. A palavra-chave para um bom líder é, sobretudo, ouvir, afirmam as especialistas.
Pesquisa da universidade PUC/MG com 500 grandes empresas brasileiras, divulgada em março deste ano, mostra que o Brasil enfrenta uma crise de gestão corporativa, já que 75% dos executivos entrevistados ainda se julgam “superpoderosos” e promovem gestão autocrática, sem espaço para a colaboração dos liderados.
A especialista em comunicação e professora Vivian Rio Stella garante que esse formato de liderança é oposto do ideal. Segundo ela, o líder contemporâneo forma sucessores, desenvolve talentos, gera resultados, cria espaços de troca, inovações e contribuição. A especialista em Segurança Psicológica, Patricia Ansarah, acrescenta que líder é alguém que facilita as relações, direciona o alcance das metas com clareza de papéis e responsabilidades.
“O líder que está num palco, arrastando multidões já não faz mais sentido na gestão moderna, e sim o líder que constrói conexões, abre espaços e inspira pelo exemplo”, diz Vivan. Segundo Patrícia, o comandante do time deve saber configurar as relações no trabalho e dar espaço igualitário a todos os membros da equipe para ampliar pontos de vistas e tomar decisões mais inteligentes.
Ouvir e perceber
As especialistas afirmam que saber ouvir e aprender são características fundamentais da nova liderança, estimulando a humanização das relações de trabalho. “O líder contemporâneo precisa saber ouvir, estar disponível para falar de seus erros e aprendizados, ter uma comunicação direta, precisa saber estabelecer limites, dar feedbacks com foco no aprendizado e estabelecer relações seguras onde a confiança prevaleça”, afirma Patrícia.
Vivian comenta que se pudesse dar uma única dica de liderança de sucesso nos dias atuais seria ouvir. “O gestor precisa ouvir não só com os ouvidos, mas perceber o ambiente, participar das atividades da organização, circular por diferentes setores, falar com diferentes pessoas. É uma forma de exercer uma liderança mais humanizada e menos no pedestal”, acrescenta Vivian.
A 21ª edição da Carreira dos Sonhos, realizada entre janeiro e março de 2022, com a participação de mais de 117 mil pesquisados jovens, de média gestão e alta liderança no Brasil, reforça essa percepção. Sentir que é ouvida(o) foi a resposta mais citada sobre como um bom líder deve fazer para sua equipe se sentir apoiada. Em seguida, os entrevistados pediram autonomia no lugar do microgerenciamento, receber apoio em situações difíceis e compreender o que precisa fazer para ter sucesso na função.
Habilidades
Entre as principais habilidades de um bom líder, de acordo com as especialistas, estão visão estratégica, capacidade de inovação, pensamento crítico, critérios em relação a resultados e metas, disponibilidade para abordar erros e aprendizados e comunicação direta. “Feedbacks sobre desempenhos da equipe, com foco no aprendizado, ajudam a estabelecer relações seguras em que a confiança prevalece”, diz Patrícia.
Vivian acrescenta que o gestor precisa desenvolver senso de colaboração para trabalhar de forma cooperativa. Ela cita ainda que criatividade e estar conectado, para aprender constantemente, são diferenciais. “Um líder que sabe tudo é um líder que aprende tudo e abre espaços para gerenciar. A liderança hoje em dia, pela forma do nosso trabalho, é discursiva, por isso a comunicação é superimportante”, alegou.
Velhos conceitos
O líder que ainda mantém uma visão egocentrada, de segregação e não de cooperação e colaboração pode ter funcionado num certo momento da cultura organizacional, mas hoje em dia não funciona mais, garante Vívian. Segundo Patrícia, o bom gestor não deve ser apaixonado pela própria voz e não deve estar à parte do time. “O líder moderno precisa ser parte do time e ouvir opiniões diferentes das suas antes de tomar decisões”, alega.
Gestão de problemas
As especialistas indicam que a melhor maneira para um executivo gerir problemas é entender do negócio, tendo em vista a estratégia, a cultura da empresa, e envolver diferentes stakeholders (clientes, comunidade, colaboradores) nas decisões. “A visão global amplia a capacidade de tomar decisões que impactam e influenciam socialmente”, diz Patrícia. “É preciso estudar sociologia, antropologia, tendências de mercado para ter visão macro, pensamento crítico e tomar decisões apuradas”, acrescenta Vivian.
Pessoas
Patrícia avalia que o gestor ideal é focado nas pessoas e não no processo, dá voz à equipe e leva em conta diferentes opiniões para engajar e aumentar o nível de colaboração. “A boa dica é aproximar-se da equipe e estabelecer práticas e rituais que aumentam os vínculos, a confiança mútua e promovem um ambiente psicologicamente seguro”, afirma.
Para Vivian, a confiança é estabelecida quando o discurso e as práticas do líder correspondem à realidade. “Não é um discurso inventado, teatral, um jogo cênico para se manter no lugar de poder. Já é possível ver essa liderança funcionando quando existe confiança, transparência, acesso. Líder não está num pedestal, ele está junto e é acessível.”
Sobre Vivian Rio Stella
Doutora em linguística pela Unicamp, com pós-doutorado pela PUC-SP, especialista em comunicação. Idealizadora da VRS Academy. Professora da Casa do Saber, da Aberje e da Cásper Líbero. Começou a realizar textos, produzir materiais didáticos e a dar curso sobre redação de e-mails. Do mundo da academia, queria migrar para o mundo corporativo. Passou anos como consultora até que montou a VRS para ministrar seus próprios cursos e empreender com liberdade.
Sobre Patricia Ansarah
Master trainer e especialista em Segurança Psicológica em Times, com certificação internacional em Coaching & Action Learning e em modelagem de cultura. Facilitadora de aprendizagem de grupos e desenvolvimento de liderança com mais de 20 anos atuando em RH com experiência executiva em grandes empresas como Colgate-Palmolive, McDonalds, J&J, Latam Airlines e Serasa Experian.
Sócia Fundadora do IISP – Instituto Internacional em Segurança Psicológica, organização criada para apoiar empresas a liderar a transformação do jeito de fazer negócios, preparando a liderança para uma gestão mais consciente e humana, por meio da Segurança Psicológica.