qui. nov 21st, 2024

Pessoas diagnosticadas com câncer de pulmão precisam lidar com a doença e também com o preconceito ocasionado por este tipo de câncer

Estigma é um conjunto de crenças negativas, na maioria das vezes, causadas por desinformação, sobre algo ou alguém. Como se um diagnóstico de câncer não fosse suficiente para lidar, muitas pessoas com câncer de pulmão também enfrentam o estigma, que tem efeitos danosos na saúde mental e física dessas pessoas acometidas pela doença.

“O câncer de pulmão é, muitas vezes, julgado de uma forma que outros diagnósticos de câncer não são. O estigma afeta negativamente e, de maneira direta, as pessoas diagnosticadas”, afirma Carlos Gil Ferreira, oncologista torácico e presidente do Instituto Oncoclínicas.

O preconceito relacionado ao câncer pode levar a atrasos em ver um médico, problemas nos relacionamentos pessoais, menos apoio social, expectativas de rejeição e pior saúde mental. “Muitas vezes não há sinais precoces de câncer de pulmão, por isso, normalmente, ele é encontrado já em estágios avançados. Se a pessoa, além de tudo, se sentir culpada por seus sintomas e atrasar a busca de diagnóstico ou atendimento, as opções de tratamento podem diminuir. Quanto mais cedo a doença for detectada, maiores as chances de recuperação”, diz o médico.

A falta de conhecimento público sobre a doença contribui para o estigma. Como a maioria dos diagnósticos são causados pelo tabagismo, pessoas que não fumam podem ter um risco subestimado e deixarem de procurar ajuda. “Os mal-entendidos sobre o vício e outros fatores de risco que causam câncer de pulmão alimentam a percepção injusta de que o câncer de pulmão é culpa da pessoa. Isso afeta pessoas com câncer de pulmão, independentemente de terem ou não histórico de tabagismo”.

É importante lembrar que a nicotina é altamente viciante e ao parar de fumar, surgem rapidamente sintomas de abstinência, como irritabilidade, problemas para dormir e ansiedade. “Muitas pessoas que fumam querem parar, mas pode parecer quase impossível. Algumas pessoas conseguem parar, mas muitas outras não e é compreensível, porque pode ser muito difícil parar, mesmo que a pessoa queira. Ninguém continua fumando porque quer ter câncer de pulmão”, alerta.

Câncer de pulmão em não fumante

Há uma relação direta entre câncer de pulmão e tabagismo. E, durante muito tempo, acreditou-se que a doença acometia principalmente fumantes ou, em menor risco, de um subgrupo de fumantes passivos. Mas, nos últimos anos houve uma mudança nesse parâmetro. “Vem crescendo o número de pessoas diagnosticadas com câncer de pulmão que nunca fumaram e, muitas vezes, nunca tiveram contato direto com fumantes”, conta Carlos Gil.

Dentro desse grupo, o número que mais cresce é o de mulheres jovens não-fumantes. “Mulheres com um tipo de tumor chamado adenocarcinoma, que nunca fumaram, têm diagnosticadas com um tipo de câncer de pulmão com características diferentes. A doença tem alterações moleculares diferentes do câncer de pulmão de tabagistas, comportamento clínico distinto e pode ser tratada com medicamentos específicos, chamados de drogas-alvo”, diz.

Sobre o Dr. Carlos Gil Ferreira

Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1992) e doutorado em Oncologia Experimental – Free University of Amsterdam (2001). Foi pesquisador Sênior da Coordenação de Pesquisa do Instituto Nacional de Câncer (INCA) entre 2002 e 2015, onde exerceu as seguintes atividades: Chefe da Divisão de Pesquisa Clínica, Chefe do Programa Científico de Pesquisa Clínica, Idealizador e Pesquisador Principal do Banco Nacional de Tumores e DNA (BNT), Coordenador da Rede Nacional de Desenvolvimento de Fármacos Anticâncer (REDEFAC/SCTIE/MS) e Coordenador da Rede Nacional de Pesquisa Clínica em Câncer (RNPCC/SCTIE/MS). Desde 2018 é Presidente do Instituto Oncoclínicas e Diretor Científico do Grupo Oncoclínicas. No âmbito nacional e internacional foi Membro Titular da Comissão Científica (CCVISA) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). No âmbito internacional é membro do Board, Career Development and Fellowship Committee e do Bylaws Committee da International Association for the Research and Treatment of Lung Cancer (IALSC);Diretor no Brasil da International Network for Cancer Treatment and Research (INCTR); Membro do Board da Americas Health Foundation (AHF). Editor do Livro Oncologia Molecular (ganhador do Prêmio Jabuti em 2005) e Editor Geral da Série Câncer da Editora Atheneu. Já publicou mais de 120 artigos em revistas internacionais. Em 2020, recebeu o Partners in Progress Award da American Society of Clinical Oncology. Presidente eleito da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica para o período 2023-2025.