Por Patricia Nagle * – Presidente da TeamViewer Américas
Você já se perguntou quanto tempo levaria para ensinar e treinar quem for ocupar o seu cargo quando você sair de férias, trocar de empresa ou se aposentar? Um par de dias? Alguns meses? Talvez anos? Claro, a resposta pode não ser tão simples assim, uma vez que depende da complexidade do trabalho, do background de quem vai executar as suas tarefas e dos recursos disponíveis para ajuda, treinamento e aprendizado aos já funcionários e aos novatos que ingressam na empresa. Ainda assim, o fato é que não há desculpa para que as empresas não usufruam da imensa gama de novas e sofisticadas tecnologias que vêm surgindo a cada dia e que podem revolucionar a forma como as pessoas compartilham informações e conhecimento dentro do mundo corporativo. São ferramentas acessíveis e, à luz da atual rotatividade de mão-de-obra, penso que estamos prontos para começar a alinhá-las em nosso favor.
Rumo à Porta de Saída
Durante os últimos dois anos — o que corresponde aproximadamente ao período da pandemia —, a força de trabalho nos Estados Unidos tem vivenciado um processo que já está sendo chamado de “A Grande Demissão“. No final do ano passado, aproximadamente 4,5 milhões de norte-americanos se afastaram de seus empregos, com pequena variação entre os meses de novembro e dezembro. O Departamento de Segurança do Trabalho do Estado de Washington reagiu aos números, não apenas reconhecendo a rotatividade, mas explicando que as pessoas que deixaram seus empregos o fizeram em busca de maiores salários, mais benefícios, flexibilidade e um melhor estilo de vida.
A debandada atingiu desde funcionários altamente qualificados, a exemplo de professores e profissionais da saúde em situação de burnout por conta Covid-19, como trabalhadores com salários mais baixos. De acordo com o jornal The Washington Post, em dezembro de 2021 os setores com os níveis mais altos de funcionários que se demitiram de seus empregos foram os de hotelaria/alojamento e serviços de alimentação (6,1%), varejo (4,9%) e comércio, transporte e serviços públicos (3,8%). Até mesmo os segmentos de prestação de serviços profissionais e empresariais sofreram uma queda de 3,7% de mão-de-obra. Ao mesmo tempo, o percentual de trabalhadores demitidos por seus empregadores atingiu uma baixa recorde de 0,8%.
Oportunidade e Adaptação
As lacunas resultantes desse movimento deixaram caminhões e ruas em toda a América abarrotados de placas “Estamos Contratando!”, particularmente em negócios voltados para o consumidor. Gratificações e salários mais altos para iniciantes, em conjunto com alguns avanços em relação à flexibilidade, figuraram entre os benefícios oferecidos pelas empresas em resposta à escassez de mão de obra.
No entanto, a integração de um novo funcionário — praticamente em qualquer tipo de trabalho — requer ao menos algum treinamento antes que possa ser integrado às equipes e ser produtivo. Quanto mais tempo um funcionário experiente gasta para atualizar o novo contratado, seja mostrando a ele as tarefas, as ferramentas, os procedimentos ou a própria política da empresa e da função em si, menos tempo ele tem para desempenhar suas funções, impactando a produtividade. Ou seja: ao encontrar novas formas de reduzir a duração do treinamento inicial dos novatos, uma empresa só tem a ganhar: primeiro, o novo contratado pode se tornar um funcionário produtivo muito mais rapidamente e, segundo, o funcionário veterano pode retomar ao seu trabalho normal bem mais cedo.
Aplicações no Mundo Real
Entre as múltiplas opções que um número crescente de empregadores vem utilizando para alcançar esse objetivo estão as tecnologias avançadas como wearables e Realidade Aumentada.
Digamos que um jovem acabou de aceitar um emprego como atendente de pedidos em um armazém. Tradicionalmente, o trabalho começa com o aprendizado da localização de cada produto estocado, e geralmente há milhares deles. Por sua vez, a coleta dos itens para um pedido normalmente envolve uma sequência que pode alcançar até dez ou 12 etapas, com uso de várias telas e malabarismos de dispositivos portáteis, sem falar na escolha da caixa apropriada para cada produto, a acomodação do item dentro da caixa, e outras inúmeras etapas adicionais ainda envolvidas nos pedidos em papel.
Alguns operadores de armazém, porém, já descobriram que o uso da Realidade Aumentada pode, por exemplo, reduzir o tempo de aprendizado de três dias para apenas meia hora. Em um caso, um sistema de RA que responde a comandos de voz, exibe as informações relativas ao pedido do cliente diretamente no campo de visão do funcionário com smart glasses da Google. O visor mostra graficamente a disposição das prateleiras onde estão os produtos, guiando os trabalhadores diretamente para cada item que consta no pedido de coleta, e todas as informações relevantes são também projetadas no campo de visão do usuário.
E não para por aí. O mesmo sistema também ajuda a empresa a redesenhar o layout de suas prateleiras, simplificando o processo de picking, liberando as mãos dos funcionários, eliminando muitas etapas anteriormente necessárias e promovendo grandes melhorias de eficiência e produtividade, com benefícios tanto para os funcionários experientes como para os novatos. O resultado? Aumento do engajamento das equipes, crescimento da conscientização de segurança e aceleração de aprendizado.
Uma Nova Geração
Muitas outras aplicações da tecnologia de RA para treinamento profissional já estão disponíveis também em várias indústrias, desde a Aeroviária, inclusive para os pilotos, até Manufatura, Medicina, Forças Armadas e linhas de Reciclagem. De fato, a Realidade Aumentada irá mudar o mercado graças às inúmeras possibilidades que oferece, seja para otimizar treinamentos e processos como para criar modelos de negócios e ressignificar a relação das empresas com seus clientes. O Brasil, por exemplo, é um dos líderes globais de Realidade Aumentada, registrando grande impulso no uso da tecnologia nos setores de varejo, entretenimento, saúde, marketing, automotivo e financeiro – só para citar alguns. Grandes marcas dos mais variados segmentos já realizam treinamentos de segurança e manuseio e reparos de equipamentos com RA.
As oportunidades são inúmeras e crescem a cada dia no País. E globalmente. Por tudo isso, penso que, ao refletir sobre a natureza do trabalho realizado em suas companhias, todo empregador deve começar já a considerar como os padrões da empresa podem ser capturados e codificados em um aplicativo RA, especialmente em tempos de Transformação Digital. Ao capacitar e requalificar os trabalhadores adotando tecnologias avançadas como a Realidade Aumentada, uma empresa não apenas aumentará a sua eficiência operacional, sua carteira de negócios e sua base de clientes, mas investirá em seu principal ativo (seu quadro de funcionários) ao atrair toda uma nova geração de profissionais que certamente se manterão por muito mais tempo, felizes e produtivos, dentro da organização.
Sobre Patrícia Nagle *
Veterana da indústria de softwares corporativos, Patricia Nagle é Presidente da TeamViewer Américas.
Com vasta experiência em liderança de equipes de alto desempenho, vendas, desenvolvimento de negócios e geração de demanda go-to-market nos setores de software empresarial, assinatura e serviços profissionais, e forte foco na construção de um ecossistema de parceiros estratégicos de crescimento, Patrícia foi por 13 anos responsável pelo Marketing Corporativo e desenvolvimento de negócios globais da gigante canadense de software OpenText, na qual respondeu pelas vendas de canais e OEM e desenvolveu funções de vendas internas, apoiando uma comunidade de mais de 28 mil parceiros.
A executiva também gerenciou alianças estratégicas globais com parceiros-chave, entre eles SAP, Google, AWS, Microsoft e Salesforce, que contribuíram substancialmente para a receita da empresa. Antes de sua passagem pela OpenText, Patrícia obteve reconhecimento e sucesso em várias funções de vendas, marketing e operações em empresas líderes globais de software e consultoria.